(Sr Alberto, o homenageado e guardião da Capela do Senhor d’Além)
Tão difícil está a ser começar a escrever…escrever com mágoa não me traz inspiração, prefiro escrever com alegria.
Hoje estou triste, continuo triste, mas sinto que o sr Alberto merece esta homenagem e merece que eu agradeça toda a generosidade que senti quando o conheci.
A Capela do Senhor d’Além
O sr Alberto foi durante muito tempo o guardião desta capela que está nas escarpas da margem esquerda do rio Douro muito perto da serra do pilar.Este homem vivia dentro dela com os seus cães
em condições degradantes, mas recebia os curiosos de uma forma desarmante, quase como se nos mostrasse um palácio.
Era o seu palácio, aquele lugar repleto de tralhas, com vestígios de peças antigas, cuidadosamente protegidas por ele para que não ficassem mais estragadas.
Conheci-o num passeio fotográfico que a Pictury Photo Tours organizou pelo Porto e que acabou do lado de lá do rio, precisamente neste local mágico.
Fomos recebidos com alegria por este ser humano, magro, com marcas do tempo que não estavam de acordo com a sua idade. Mas sempre se mostrou sorridente e orgulhoso do seu templo.
O guardião da capela até ao último minuto
Contou-me que tinha licença para lá viver e que quando a capela fosse restaurada teria de sair…ele sabia que era inevitável.
Foi um dia maravilhoso e que acabou da melhor maneira, apesar de ter sentido um turbilhão de emoções, de ter pena dele, de achar que tinha de fazer alguma coisa, era realmente um privilégio e uma lição de vida alguém estar feliz a viver assim.
Foi o que senti, ele tinha que ficar ali até ao fim, quase como o capitão…ser o último a abandonar o navio.
Falamos várias vezes em lá voltar, iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Sempre que voltava às fontainhas, olhava para a capela e dizia olá ao Sr Alberto. A verdade é que não voltei a tempo.
De repente esta notícia devastadora, o guardião suicidou-se… “A vida passa e não espera pela gente”.
Profunda tristeza, um vazio que me desconcerta.
É preciso dizer que a capela já está em processo de restauração, estão a começar pela fachada…aliás o sr Alberto continuava a viver lá, até ter desistido de viver.
Não sei se se poderia evitar, sei que de alguma maneira me penalizo e a tristeza que sinto é por saber que não o vou voltar a ver, mas gosto de pensar que onde quer que esteja está contente pelo restauro do seu palácio, tenho a certeza que não queria que o deixassem cair.
Termino esta homenagem com palmas sentidas…foi assim mesmo que terminou o passeio, com palmas ao organizador!
Bem-haja, Sr Alberto!
by: Maria José Dias
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